PISTAS PARA O TESOURO

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

2011

A maioria das pessoas espera o ano de 2011 ainda com menos confiança do que eu, quando enfio a pila na minha mulher. – Pensou José, depois de ouvir as notícias na televisão no último dia de 2010.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O alpinista impotente

José olhou para a vizinha, cujo olhar interpretava sempre como indiferente, embora por vezes ela lhe sorrisse. Os seios generosos, o traseiro opulento e as coxas poderosas intimidaram-no e fizeram-no sentir-se pequenino. Imaginou-a nua e depois pensou no seu inseguro e incompetente pénis e sentiu-se a encolher, a secar, a mirrar. Não, não, não, ele nunca conseguiria satisfazer uma mulher daquelas. Nem aquela nem nenhuma outra, mesmo que fosse menos sensual e pujante. Diante de uma mulher, ele era ainda mais incapaz do que uma criança que tentasse escalar uma montanha escarpada e íngreme.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Espírito de Natal

- Porque é que estás vestida desse modo? Pareces a Virgem Maria!
- …
- E que fato de Pai Natal é aquele?
- Aluguei-o esta manhã. Veste-o.
- Para quê?
- É uma fantasia natalícia que me invadiu a cabeça. Uma coisa simples, está descansado!
- Hum!?
-Quero que entres pela janela vestido de Pai Natal e me fodas à bruta. Mas à bruta mesmo, como se estivesses a violar a Virgem Maria!
- A mãe de Jesus? A Nossa Senhora?
- Essa mesmo! Fode essa cadela, atravessa-a com o teu Espírito Santo… Quero ficar com a cona a doer!
- Estou a ver que, apesar de estares vestida como ela, ainda não te identificas completamente com ela.
- Quando me estiver a vir é que tornarei uma autêntica Nossa Senhora, a Nossa Senhora das Putas! Maria, mas nunca mais Virgem!
- Isso é o que eu chamo espírito de Natal!

sábado, 18 de dezembro de 2010

A aflição do ciúme

Uma certa vez, um acaso qualquer levou-o a perguntar se ela já tinha visto o filme “Dr. Strangelove”, de Stanley Kubrick. A resposta deixou-o um bocadinho ciumento e até amuado.
- Vi, vi! Na Cinemateca de Lisboa, com o meu primeiro namorado. Porra, agora que penso nisso… Passaram tantos anos! Estou a ficar velha, não é?
- …
- Sabes que depois, nessa noite, depois de beber algumas cervejas no Bairro Alto, sonhei que voava montada em cima da pila dele – que nalgumas partes do sonho era um enorme míssil atómico e noutras era um foguete fininho mas comprido, como aqueles que, na aldeia da minha infância, atiravam na festa em honra de Nossa Senhora dos Aflitos.
- …

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Não há cu que aguente a picha dos bancos!

- O que pensas da crise económica, Tomé?
- … Tenho um colega gay… maricas, bicha até à medula… e ele no outro dia disse uma coisa curiosa quando lhe fizeram uma pergunta semelhante…
- Disse que a culpa da crise é dos heterossexuais?
- Não! Foi uma observação realmente profunda, mas metafórica… Ele disse isto: “Gosto de ser enrabado, mas não há cu que aguente a picha dos bancos!”
- Chamas metáfora a isso, Tomé? Isso é literal, literal, literal… Metáforas são as teorias económicas!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Oh su sexo con luna!

Todas las rosas blancas de la luna caían,
por la ventana abierta, en el cuerpo desnudo ...
Mirando aquellas carnes blandas que florecían,
hundido entre mis sueños, yo estaba absorto y mudo.

Oh su sexo con luna! ¡Esencia indefinible
de su sexo con luna! Hervían los blancores
de la carne, y el rostro, perdido en lo invisible
de la penumbra, lánguido, cerraba sus colores.

Era el enervamiento del dolor ... Y cual una
rosa de treinta años, opulenta y desierta,
el cuerpo blanco se elevaba hacia la luna
frío, espectral, azul, como una pompa muerta ...

Juan Ramón Jiménez

Via