Assim que a viu, Tomé começou a comer com os olhos uma cinquentona bem conservada e de curvas volumosas que falava ao telemóvel encostada a uma parede do restaurante. Aproximou-se, discretamente mas com uma desculpa para falar com ela na ponta da língua. Ouviu-a dar instruções à criada acerca do jantar e da roupa que era preciso arrumar. Tomé julgou que ela ia desligar, mas a mulher ainda acrescentou um pedido, proferido com a naturalidade com que falara dos assuntos domésticos:
- Só mais uma coisa, Maria de Fátima. Tenho trabalho muito nos últimos dias e não consegui dar muita atenção ao seu patrão. Veja se o coitadinho precisa de alguma coisa, se lhe apetece… sei lá, um broche ou mesmo a coisa completa. Desconfio que ele anda carente e uma hora a foder só lhe faria bem! Se ele quiser não se preocupe com a roupa, está bem?
A mulher desligou e olhou para Tomé, que entretanto se aproximara como se lhe fosse falar. Este, contudo, não conseguiu pronunciar palavra e ficou a vê-la afastar-se bamboleando o roliço traseiro. E, ainda antes de reparar na erecção que prosperava no seu baixo-ventre, observou com filosófica resignação:
- Um broche ou mesmo uma foda completa… Não deixam de ser assuntos domésticos!