PISTAS PARA O TESOURO

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Leva-me tudo que eu tenha, amor

Se duvidas que teu corpo
Possa estremecer comigo –
E sentir
O mesmo amplexo carnal,
– desnuda-o inteiramente,
Deixa-o cair nos meus braços,
E não me fales,
Não digas seja o que for,
Porque o silêncio das almas
Dá mais liberdade
às coisas do amor.
Se o que vês no meu olhar
Ainda é pouco
Para te dar a certeza
Deste desejo sentido,
Pede-me a vida,
Leva-me tudo que eu tenha
–Se tanto for necessário
Para ser compreendido.

António Botto (1897-19599

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sonho literal

- Gostei de te ver comer o gelado ontem! Estás definitivamente melhor. Quase, quase curada.
- Até sonhei com ele ontem à noite.
- Isso é sinal que querias comer outro. Queres que vá comprar um?
- Não é preciso. Eu sonhei que estava a comer o gelado, mas a meio do sonho o gelado transformou-se no teu caralho e até ao final do sonho foi o teu caralho que eu lambi e chupei.
- Eh, eh! Isso é melhor que a opinião de mil médicos: estás curada! Esse sonho é tão óbvio que não chega a ter segundo sentido. Para o interpretar não é preciso ser psicanalista.
- Yeh! É mais literal que uma equação matemática: preciso de foder!

domingo, 19 de setembro de 2010

Desejo impotente

Tomé ia de vez em quando visitar a sua velha tia Irene ao Lar de Idosos onde esta vivia. Um dia descobriu que este tinha um novo hóspede: um velhote de cadeira de rodas cuja cara era vagamente familiar. Tomé reconheceu-o ao fim de alguns minutos: era um gay conhecido em toda a cidade, que tinha desaparecido de circulação há meses atrás devido a uma misteriosa doença neurológica de que ninguém sabia dizer o nome. Durante décadas fora um distinto cavalheiro cujas preferências sexuais despertavam silenciosos olhares reprovadores, mas que, graças à sua discrição e finura de maneiras, nunca causara nenhum escândalo. Mas agora algo se desarranjara no seu cérebro e falava pelos cotovelos, tendo o sexo como tema único. Fazia a sua cadeira deslizar até ao pé dos outros idosos e das suas visitas e, sem nenhum aviso, começava a descrever os seus encontros sexuais com marinheiros e operários. Contaram a Tomé que a frase “havia um preto muito alto com um caralho tão grande que… não havia cu que aguentasse” já tinha provocado desmaios em duas senhoras especialmente afectadas (e, dizia-se, carentes) que lá tinham ido em visita social. O velhote nunca se calava, como se tivesse uma fábrica de palavras e recordações sexuais dentro da cabeça.
- Quem nunca experimentou levar no cu não devia criticar! É tão, tão bom! Eu gostava tanto que às vezes me vinha enquanto era enrabado, apesar de ninguém me ter tocado na picha. Era só o prazer de sentir a picha de outro gajo a enfiar-se-me no cu até às tripas, está a ver? Mas ficar no meio, foder e ao mesmo tempo ser fodido, era ainda melh… Mas, espere aí, não se vá embora. Deixe-me contar-lhe de uma vez em que éramos dez, todos enleados uns nos outros.
Tomé pensou, não sem alguma tristeza, que o velhote já não conseguia desejar mas ainda se lembrava suficientemente do desejo para querer satisfazê-lo.
- Não sei se é uma explicação neurologicamente rigorosa, mas acho que fala porque já não consegue foder. É por isso que é incontinente verbal.
Depois de dirigir essas palavras a si mesmo, Tomé perguntou-se também, mas sem conseguir encontrar nenhuma resposta, se aquela desinibição desregrada provocada pela doença significaria que o velhote agora era mais livre do que quando obedecia às convenções sociais e guardava segredo das suas aventuras sexuais.

sábado, 4 de setembro de 2010

Os olhos do amor

- Estou horrível, uma bruxa autêntica!
- Mentira. Cada dia que passa tens melhor aspecto. E estás mais bonita que estas enfermeiras boazonas todas juntas!
- Melhor sim, mas horrível à mesm…
Um beijo superficial mas intenso nos seus lábios pálidos e descarnados impediram-na de continuar. A enfermeira que vinha a entrar no quarto sorriu e voltou para trás.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A casa da avó é onde o coração quiser

Depois de meia hora a lamber e a perfurar com os dedos os estreitos orifícios da rapariga, e após a aguda explosão de gemidos que se seguiu a muitos gritinhos de prazer, Sofia sentou-se na cama e sorriu, inebriada pelo prazer da outra. Diminuiu o sorriso para metade e ficou calada e imóvel, submersa em pensamentos que a rapariga não conseguia perscrutar, apesar de espreitar com ávida e silenciosa atenção o seu rosto bonito e todos os centímetros da sua nudez. Passaram vários minutos até o silêncio ser quebrado, quando o sorriso de Sofia se rasgou de novo.
- Os teus buraquinhos fazem-me lembrar a casa da minha avó.
- Hã?? A minha cona faz-te lembrar a cona da tua avó?
- Não! Sei lá como era a cona da minha avó! A casa, eu disse a casa. A tua cona e o teu cu fazem-me lembrar a casa da minha avó, que também era muito acolhedora e saborosa – sempre cheia de doces, compotas, xaropes de açúcar e mel, um mel divino! Tal qual os teus buraquinhos!
-
- Não dizes nada? Não importa! As recordações só alimentam a pessoa que recorda. Alimentam e prendem, caso sejam conduzidas por um coração desvairado. Mas, realmente, nada disto tem importância. Anda, vem. Deixa de me comer com os olhos e come-me a sério. Quero ser engolida pela tua boca!
Quando Sofia disse esta última frase, o rosto de Marta pousou sobre o rosto da rapariga e substituiu-o durante alguns segundos, mas desapareceu assim que a língua dela lhe penetrou a boca e as suas mãos lhe tomaram posse dos seios.