PISTAS PARA O TESOURO

terça-feira, 18 de maio de 2010

Cedo de mais

A ejaculação chegou cerca de trinta segundos depois de José a ter penetrado, ainda ela não se tinha sequer aproximado da metade do caminho até ao orgasmo. José tirou o corpo pesado e pouco ágil de cima do insatisfeito corpo da mulher e afundou a cara nos lençóis. Nenhum dos dois falou. Ela não fingia orgasmos, mas tentava sempre disfarçar a frustração. Fez um esforço para normalizar a respiração e largou uma carícia nos ombros de José, logo seguida de um rápido beijo nos cabelos. Depois, com uma lentidão involuntariamente sonora, virou-se na cama como se fosse dormir. A sua infelicidade era aguda como uma dor, mas a obscuridade do quarto tornava-a invisível e incomunicável. Esperavam-na horas de insónia, a ouvi-lo ressonar e a cheirar as exalações do litro de vinho que ele tinha bebido ao jantar. José gostaria de a beijar e abraçar, mas não queria que ela percebesse as suas lágrimas. Murmurou baixinho “não presto para nada” e ao fim de poucos minutos adormeceu, submerso nos vapores do álcool com que todos os dias se anestesiava.

2 comentários:

  1. esse José parece particularmente sensivel... não obstante a anestesia


    beijinho

    P.S.- os teus contos são sempre interpelantes!


    P.S. -

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  2. Bom, ele terá que afogar a mágoa em água, nunca em vinho! Ela tem de a afogar em vodka, pura como água! ;-)
    Beijo

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