A nova colega de José era uma daquelas mulheres que fazem os homens virar a cabeça na sua direcção, mesmo que sejam pudicos ou amem muito as suas esposas. Tinha um rosto bonito e, aplicada a si, a expressão “corpo de sonho” deixava de ser uma metáfora gasta pelo uso e tornava-se uma descrição tão objectiva como dizer que as mulheres têm dois seios.
José ouviu os colegas comentarem milimetricamente as suas curvas e “o grande tesão” que sentiam ao vê-la - “fico sempre com uma erecção do caraças”, disse um com a aprovação dos outros todos.
O olhar de José também se afogava nos detalhes do corpo da colega e seguia os seus movimentos e maneios como se nela houvesse um íman para os olhos. Mas fazia-o sem a exaltação masculina e sem o orgulho viril dos colegas. Observava-a com um desejo envergonhado e sujo de tristeza. Em vez de uma veemente erecção ele sentia que, não só o seu pénis como também o seu coração, encolhiam. A visão daquele traseiro opulento fazia-o sentir pequenino, frágil e incapaz - “não tenho picha para aquilo”, murmurava, recordando o seu pénis flácido e indiferente ao corpo nu da esposa roçando-se no seu. Normalmente José só conseguia ter uma erecção se a esposa o chupasse. Isso fazia-o sentir-se desprezível: “As mulheres gostam de chupar uma picha porque a vêem grande, não gostam de chupar para a empinar”.
Passou um colega e disse: “Zé! Estás a chorar?!” José deu uma desculpa vaga relacionada com reacções alérgicas a um medicamento, mas a faísca que disparara as lágrimas fora o pensamento de que as suas erecções, além de difíceis de alcançar, serviam de pouco, pois a rapidez com que ejaculava condenava sempre a sua parceira à frustração.
José limpou as lágrimas com um lenço e encolheu-se sobre si mesmo. Sentia nojo de si próprio e, ao ver o seu reflexo na superfície espelhada de um armário, comparou-se a um papel amarrotado e sujo, tão peganhento e repelente que uma pessoa em vez de lhe jogar mão e pô-lo imediatamente no lixo vai antes buscar a pá e a vassoura.
“Não presto”, murmurou. Vista do buraco da sua vida, a linda nova colega de José era inatingível como a Lua.
Nem sempre se consegue aquilo que se deseja...
ResponderEliminarBravo!
ResponderEliminarDevias escrever um livro com esse material... o lemos assim, com esse status!
A lua - atingível.
ResponderEliminarSim.
Mas que se chore assim mesmo...
É muito interessante como colocas algumas coisas que realmente sentimos. Bravo!?! Será que comporta essa palavra diante da castração. Je ne suis pas.
ResponderEliminarNada é inatingível.
ResponderEliminarHum... não considero ninguém inatingível desde que saibamos valorizar o que de melhor temos.
ResponderEliminarJaime,amei sua visita e quero responder, vc diz nao ser religioso e fica meio confuso com frases de Freud e Kant, sobre as pessoas religiosas frustradas, bom, penso q eles se referiam aos religiosos que nao se casaram, e mesmo se referindo aos solteiros, casados, etc, eu nao acho q pessoas religiosas sejam frustradas sexualmente, pois sou espírita, dos ensinamentos de Alan Kardec e lhe digo, sou muito bem resolvida, muito bem casada, frustrada, nem um pouco, acho q Freud e Kant nao tiveram oportunidade de me conhecer e se enganaram na teoria,kkkkkkkkkk, bom, respondo por mim, nao sou carola, com meu marido me sinto nas nuvens, portanto no meu caso, nada a ver...conheço uma freira, q diz q se sente muuito bem em ser assim, q namorou na adolescencia mas nao gostava, q só na religiao se sente realizada, conheço outras freiras q namoraram muito mesmo e dizem nao sentir falta de nada do mundo, e realmente sao bem felizes, mas tenho certeza q existam sim, religiosos frustrados q se escondem por tras da religiao...amei seu blog e espero mais visitas suas!!abçaoooooo
ResponderEliminarinteressante, mas esse Jose tem problemas, tem q se tratar e melhorar a auto estima, tb nao acho q exista mulher inatingivel, meu marido diz q qdo eu era adolescente ele me achava inatingivel e olha só...estamos juntos...kkk
ResponderEliminarE se o sexo se resumisse a uma erecção e ejaculaçao precoce... mas não. É muito mais do que isso, a conversa, os beijos, as mãos e a boca fazem milagres. O José que invista da auto-estima que se deixe de complexos. ;)
ResponderEliminarNeste caso, não me parece que seja esse o caso. :)
ResponderEliminar"Nós, que vivemos aqui, somos os bichinhos microscópicos que vivem na base dos pêlos do coelho. Mas os filósofos tentam subir da base para a ponta dos finos pêlos, a fim de poder olhar bem dentro dos olhos do grande mágico".
ResponderEliminarObrigada pelo comentário =)
Volte sempre!
Oi Jaime,
ResponderEliminaragradeço o carinho de sua visita e comentário. Um abraço,
Úrsula
O problema de desejar a Lua é que se um dia lá chegamos a Terra tornar-se-á sempre pequena para nós.
ResponderEliminarGostei sim! Bastante! Não só da história (continuo sem saber se hei-de escrever história ou estória - sim, sei em que casos se usa um e outro mas enfim...- mas também da escrita...
ResponderEliminarYes!
:)
Só sente quem vive e quem não sente não é filho de boa gente.
ResponderEliminarQual melhorar a auto estima e etc e tal, é um caso não virtual, mas sim entre muitos reais!
Adorei como sempre , meu Valente Piedade.
Beijo de Cabra